sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A Praça Pedro II: história e memória nos seus anos dourados


A Praça Pedro II: história e memória nos seus anos dourados
(50 e 60 do século XX)



Daniela Félix de Oliveira*

RESUMO

O espaço de uma praça funciona como detonador de lembranças. Sendo a cidade um organismo em transformação a memória de seus habitantes obtida através da história oral ajuda na construção de uma cidade em determinado tempo e lugar. As praças públicas de Teresina são espaços que proporciona visualizar muito da vida dos teresinenses e dos acontecimentos do passado da cidade. A Praça Pedro II nas décadas de 50 e 60 do século XX representara para a juventude teresinense o centro de reunião e lazer, considerada o coração da cidade. Pretende-se, portanto, analisar este lugar como representação na construção da memória e da identidade dos seus freqüentadores desta época.
Palavras – chave: Cidade. Memória. Praça.

ABSTRAT
The area of detonator serves as a place of memories. As the city a body in processing the memory of its inhabitants obtained through oral history, help in building a city in a specific time and place. The public squares of Teresina are spaces that provides view of the very life of teresinenses and the events of the past of the city. The plaza Pedro II in the decades of 50 and 60 of the twentieth century represents for youth teresinense the center of assembly and leisure, considered the heart of the city. It is, therefore, consider this place as representation in the construction of memory and identity of their visitors this season.

Keywords: City. Memory. Square


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* Professora da Rede Estadual de Ensino, especialista em História do Brasil.






As praças são unidades urbanísticas fundamentais para as cidades, pois desempenham um papel importante na vida social das diversas sociedades nas quais se inserem. Historicamente elas sempre desempenharam funções diversas como: ponto de encontro pessoal, local de reuniões públicas, local para execução de condenados, espaços cívicos e espaços destinados ao lazer e contemplação.
A função da praça é definida pelo modo como cada sociedade expressa sua vida coletiva, variando em consequência das mudanças sociais e históricas vivenciadas ao longo do tempo.
O ágora grego tinha como uma de suas funções mais antigas ser um ponto de encontro comunal, um local de assembléia, onde a gente da cidade ia se reunir (MUMFORD, 1995); na cidade medieval a praça pública não é mais um local central onde se discutia em conjunto os negócios da cidade ou os negócios privados, vindo o átrio das igrejas a ocupar esse espaço (LE GOFF, 1998).
Embora no decorrer do tempo e das mudanças sociais, este espaço tenha sofrido modificações em sua função, a sua importância e utilidade ainda podem ser observadas nas cidades contemporâneas.
As praças nas cidades brasileiras representam uma região teoricamente do povo, que nos permite visualizar o entrelaçamento das estruturas econômicas, os costumes, as atividades mentais e o comportamento político (DAMATTA, 1991).
Nas cidades contemporâneas existem muitas opções de convivência e lazer, perdendo a praça seu caráter de centralidade, mas não a sua importância para a história das cidades.
A praça, dependendo da sua função e determinada época, exerce sobre seus freqüentadores certo encantamento, que apesar das modificações urbanas, os acontecimentos cotidianos permanecem vivos na memória destes, recriando com isso momentos históricos importantes, pois, quando se busca uma cidade guardada na memória de alguns atores sociais se constrói uma cidade de determinado momento.
Segundo Nascimento (2002), a cidade é sempre um organismo em transformação e no recorte da memória, ela aparece clara através dos monumentos que ainda fazem parte da sua paisagem. O espaço de uma praça funciona como um detonador das lembranças e também como documento. Como nos afirma Raquel Rolnik,

O desenho das ruas e das casas, das praças e dos templos, além de conter a experiências daqueles que os construíram, detona o seu mundo. É por isso que as formas e tipologias arquitetônicas, desde quando se definiram enquanto habitat permanente podem ser lidas e decifradas, como se lê e decifra um texto. A memória é utilizada para a construção da história do cotidiano, contribuindo através da metodologia da história oral, para fornecer testemunho de vivências de pessoas em determinada época e lugar, passando estas fontes orais a fazerem parte da narrativa histórica. Portanto, a memória das pessoas relacionada com os monumentos arquitetônicos mantém vivas histórias que poderiam ser esquecidas pelo tempo (ROLNIK, 1995).


Cada pessoa possui sua memória individual onde guardam aspectos próprios, impregnados de lembranças de alguma parte da cidade. Porém, essas memórias individuais se entrelaçam e se conciliam, surgindo memórias coletivas que ajudam na construção de uma cidade em um determinado tempo e lugar.
Analisar a Praça Pedro II, nos anos 1950 e 1960, através da investigação do cotidiano, tendo como uma das fontes a memória dos seus freqüentadores, nos leva a reconstruir a história da cidade de Teresina e de seus habitantes.
Os freqüentadores da Pedro II nas décadas de 50 e 60 viveram em sua juventude os encantos que aquela praça os proporcionara, e hoje, lembram com saudade do cotidiano daquele espaço de centralidade.
Recolhemos depoimentos de freqüentadores da praça, procurando conciliar as informações contidas em fontes bibliográficas e documentais com as lembranças contidas na memória daqueles.
Todos os entrevistados em seus depoimentos consideram a Praça Pedro II das décadas de 50 e 60 como o espaço central de lazer da juventude da cidade. Citam também o Cine-teatro 4 de Setembro, o Cine- Rex, o Quartel de Polícia, o Clube dos Diários, o Bar Carnaúba e o Bar Americana; que faziam parte do entorno da praça.
O espaço da Pedro II propriamente dito é lembrado como o local dos encontros amorosos, dos flertes e da segregação sócio-econômica (a praça de cima e a praça de baixo).
Como nos afirma Dona Genu Moraes (2003), “na minha época a gente quando davam sete horas ia pra praça, aí ficava na Praça Pedro II rodando na direção dos rapazes, que ficavam em pé olhando a gente passar”. Era uma vida discreta’.
Para o casal Gilda e Junot Meireles, o espaço da praça teve uma importância especial, foi lá que os dois se conheceram. Segundo Junot (2003), Dona Gilda estava rodando com uma colega na praça, daí veio o namoro e não terminou mais até o casamento. Como nos relata Gilda Meireles,

Da primeira vez que ele me viu, eu botei o olho nele, tava lá do lado de fora da Pedro II, tava com um terno azul-marinho, eu botei o olho e senti que a coisa tem que acontecer. Quando eu pensei que não tava atrás de mim, aí falou com a minha colega, quem essa coisinha bonita. Sai daqui saliente, lá quero saber desse amarelo magro, ele sempre foi magro. Aí o mundo girou e eu comecei a namorar com ele. [...] O namorado quando pegava na mão já tava noivo. A gente saia escondida de casa, saia correndo até a praça Pedro II dava uma volta na praça e voltava pra casa. Mas lá era o ponto central, todo mundo tinha que estar lá quinta, sábado e domingo (MEIRELES, 2003).


Dona Teresinha de Jesus Félix (2003) nos fala que a Praça Pedro II era o divertimento das moças do seu tempo em Teresina, onde os namorados passeavam e quando cansavam sentavam nos bancos e iam “palestrar”. Segundo ela, saiam de oito a dez moças para a praça, pois não tinham outro movimento, iam passear e ouvir a música tocar.
Em relação à segregação social, a maioria dos entrevistados relata que de fato ela existia. As chamadas praças de cima e de baixo. Apesar de ser apenas um espaço, as classes evitavam se misturar, pois, conviviam no mesmo espaço a boa moça da sociedade e as curicas ou pipiras, que eram as empregadas domésticas, que não deveriam ser confundidas.
Como lembra Dona Genu Moraes, existia a praça de baixo que ficavam as pessoas da sociedade e a de cima, perto do quartel, onde ficavam as pessoas mais simples, as empregadas domésticas que namoravam os soldados, nenhum queria invadir o território do outro, “as moças de família não queriam namorar os soldados de polícia” (MORAES, 2003).
O Senhor Junot Meireles nos trás uma informação importante, além da praça de cima ser freqüentada pelas pessoas mais simples, pra lá iam os namorados que as famílias não queriam o namoro, mas ele afirma que no geral, naquele tempo, as moças se faziam respeitar.
No geral, os freqüentadores tanto de um segmento como do outro, iam à praça atrás de divertimento, cinema, sorveterias, banda ao ar livre e principalmente de romance. É a praça sentimental dos namoricos, das moças, das sorveterias. “Onde a banda de música da polícia, cada quinta-feira e domingo, que são os dias melhores, toca os seus dobrados, valsas de Viena, músicas de carnaval” (DOBAL, 1992).
Toda essa relação entre os jovens freqüentadores da Pedro II, possuía regras de conduta, posturas de comportamento em público, que obrigavam as moças e rapazes a agirem de acordo com a moral da sociedade. A liberdade feminina neste espaço, assim como na sociedade em geral, era mais controlada que a dos rapazes. Havia uma preocupação em relação as moças de família de não se misturarem com as mulheres da rua, portanto após o toque de recolher às 21 horas, elas deveriam ir para casa; enquanto os rapazes se dirigiam para a área da Paissandu, onde existiam os cabarés que animavam as noites da cidade. Como nos afirmar Nascimento (1999), a Paissandu, não era apenas o local do prazer carnal, mas o ambiente de encontro e desencontro do sexo masculino.
Em relação aos prédios no entorno da praça, todos os entrevistados citam os cinemas, O Clube dos Diários, o Bar Carnaúba e o Bar Americana, como locais de divertimento e lazer da juventude de sua época.
Dona Gilda nos fala que no domingo à noite assistia-se a missa na Igreja São Benedito e depois iam pra Praça Pedro II. Segundo Junot Meireles, o movimento na praça era nos dias de quinta, sábado e domingo, e que após o término da sessão de cinema de seis horas era que os jovens se dirigiam à praça, e ficavam lá até o toque da corneta do Quartel de Polícia às 21 horas; após o toque, a sociedade em dias de Tertúlias (festas) dirigia-se ao Clube dos Diários, onde dançavam até a meia-noite. Dona Gilda Meireles relembra que aos domingos pela manhã, após a missa da igreja do Amparo, as nove ou dez horas iam para as matinês do Clube dos Diários, onde dançavam até o meio-dia e depois iam pra casa.
Ao relatarem sobre as festas no Clube dos Diários, o casal Gilda e Junot, nos informam que todo mundo chegava com suas famílias, todos muito bem vestidos, sentavam a mesa. Para um rapaz tirar uma moça pra dançar tinha que primeiro pedir permissão para o pai ou responsável, só depois pediria a moça. Segundo Junot, quem não tinha dinheiro para tomar cerveja nos intervalos do clube, iam pro Bar do seu Jerônimo ou bar do oitizeiro, para beber cachaça, tinha esse nome por ter um pé de oiti na porta. Terminava as tertúlias todos se dirigiam pra casa, isto é, no caso das moças, porque os rapazes se reuniam novamente na Praça Pedro II e de lá seguiam para a Paissandu, para o baixo meretrício, onde dançavam, bebiam e tinham suas experiências sexuais. Para Junot Meireles eram os maiores cabarés do norte e nordeste; ele cita que os dois mais famosos eram os de Raimundinha Leite e Lú Silva; no carnaval esses dois rivalizavam nas fantasias mais bonitas nos chamados caminhões das raparigas, única oportunidade dessas mulheres aparecerem em público.
Dona Janet Félix (2003) nos relata, que os cinemas, com seus vesperais e matinês, no Rex ou no Cine-Teatro; o Clube dos Diários com suas matinês nas manhãs de domingo e o Quartel de Policia, onde se assistiam aos jogos de futebol, eram os locais de divertimento da juventude da sua época. Segundo ela, “o Alberto Silva, na década de 70, mudou tudo”, a população achou os seus projetos bons, pois a cidade deixaria de ser provinciana. Porém, a Pedro II foi novamente reformada, perdendo totalmente o seu traçado original, o Quartel de Polícia foi transferido para o bairro Ilhotas, o Clube dos Diários decaiu, e o centro deixou de ser a única opção de lazer da cidade.
Em seus depoimentos nossos entrevistados deixam transparecer, que apesar do espaço da Praça Pedro II seguir padrões de comportamento e o rigor das regras sociais, todos lembram desta época com saudade e encantamento. Todos estão carregados de memória, de saudade e histórias de vida, nos proporcionando visualizar e reconstituir a história de um espaço urbano que exerceu a função de centro de lazer e que está vivo na memória das pessoas que o freqüentaram. O coração da cidade batia animadamente na Praça Pedro II e sua importância histórica para a cidade de Teresina é incontestável, nela podemos observar as vivências e práticas sociais compartilhadas nos anos 50 e 60 do século XX.
Teresina expandiu-se, perdendo seu ar provinciano, transformou-se em grande cidade. A estrutura da Praça Pedro II passou por várias transformações, sendo a última em 1998, em uma tentativa de reconstruir o seu espaço ao modelo de seus anos dourados, porém, seu espaço não possuía o mesmo significado e função das décadas de 50 e 60 do século XX.
No entanto, a praça daquela época, continua viva na memória daqueles que viveram o seu cotidiano, que desfrutaram dos seus momentos de lazer, que tiveram encontros e desencontros amorosos, que viveram Teresina nos seus anos dourados, no espaço considerado o coração da cidade.





REFERÊNCIAS

DAMATTA, Roberto. A casa e a rua. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1991.
DOBAL, H. Roteiro sentimental e pitoresco de Teresina. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1993.
LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: UNESP, 1998.
LIMA, Silvia Maria Andrade. “A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim” Tudo é igual? Transformações no espaço público: o caso da Praça Pedro II, em Teresina, Piauí. Recife. (Dissertação de mestrado): UFPE, 2001.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. 4 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
MUMFORD, Lewis. A Cidade na História. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Em busca de uma cidade perdida. IN: Scientia et spes: revista do Instituto Camilo Filho – V.1 nº. 2 – Teresina: ICF, 2002.
REZENDE, Antônio Paulo. O Recife: os espelhos do passado e os labirintos do presente ou as tentações da memória e as inscrições do desejo. Revista Projeto História. nº18. São Paulo: EDUC, maio, 1999.
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1995.

FONTES: DEPOIMENTOS ORAIS

CARVALHO, Janet Félix de. Depoimento concedido a Daniela Félix de Oliveira, 07 de setembro de 2003.
GOMES, Teresinha de Jesus Felix. Depoimento concedido a Daniela Félix de Oliveira, 01 de setembro de 2003.
MEIRELES, Gilda do Prado. Depoimento concedido a Daniela Félix de Oliveira, 31 de agosto de 2003.
MEIRELES, Junot Sá. Depoimento concedido a Daniela Félix de Oliveira, 31 de agosto de 2003.
MORAES, Maria Genoveva de Aguiar. Depoimento concedido a Daniela Félix de Oliveira, 27 de agosto, 2003.

Nhia


Nhia, meu amor, foram quase dez anos de convivência. Você chegou na minha casa pelas mãos adolescentes e inconseqüentes do André, pois todo gatinho de rua ele levava pra casa, feia muito feia, com os olhos quase perdidos. Eu fiz de conta que não te queria, já que eu não tinha te achado, mas ao amor pelos animais falou mais alto e fui cuidar do teus olhinhos foi como ver uma borboleta sair do casulo....a gatinha mais linda que apareceu na minha vida, pois você já era minha, renegando aquele que te resgatou da rua.Você um dia desapareceu, e eu só pude chorar, estava distante não deu pra te procurar,mas tempos depois vieram te deixar,você era minha mesmo o meu bebê que me deu tanto amor e gerou mais amor no Fidel, Lulo, Leão, Godofredo e o Guga, todos já partiram e deixando um vazio imenso no meu coração, mas tu ficou, e ficou com tanta vida, tanta força que eu cheguei achar que você não partiria nunca, mas o meu bebê cansou, hoje eu te perdi e minha vida ficou mais triste, sem tua força, tua vontade de viver .

domingo, 12 de dezembro de 2010

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Escrever em um blog não é algo que faço de forma costumaz, porém devo confessar que aspiro essa habilidade, pois conseguir me comunicar, expor minhas idéias, às vezes sem nexo, é um bom exercício para não deixar a minha mente atrofiar e nada mais sair dela.
Portanto, essa é uma primeira tentativa, de acordo com o tempo, pois tenho que tomar vergonha na cara e estudar pro teste da OAB, vou expor aqui minha idéias, dúvidas e sentimentos......bye bye e a té mais.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

IMPROVISO DO AMOR -PERFEITO
Naquela nuvem, naquela,
mando-te meu pensamento:
que se Deus se ocupe do vento.
Os sonhos foram sonhados,
e o padecimento aceito.
E onde estás, Amor -Perfeito?
[...]
Longe, longe... Deus te guarde
sobre o seu lado direito,
como eu te guardava do outro,
noite e dia, Amor-Perfeito.
(Cecília Meireles)